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As impressões do CEO da Adobe no Brasil sobre a EXPO Dubai

EXPO Dubai

Feira universal, que acontece pela primeira vez no Oriente Médio, reúne representantes de empresas, de governos e o que há de mais novo em arquitetura e tecnologia no mundo

A Feira Universal é provavelmente o mais tradicional evento de tecnologia do mundo. A primeira edição foi realizada em 1851, no Palácio de Cristal, no Hyde Park, em Londres, com a proposta de reunir “trabalhos da indústria” de todas as nações. Desde então, a intervalos que costumam variar de dois a cinco anos, uma nova edição é realizada em um país diferente. Astana (Cazaquistão), Milão (Itália), Yeosu (Coreia do Sul) e Shangai (China), são os exemplos mais recentes. No Brasil, foi em 1922. A próxima será em Osaka, no Japão.

A feira deste ano está sendo realizada pela primeira vez no Oriente Médio. Para prepará-la, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foram investidos cerca de US$ 7 bilhões. São 190 países representados, a maior parte deles em pavilhões próprios, por onde deverão passar cerca de 25 milhões de visitantes durante os seis meses em que a estrutura ficará montada — a abertura foi em outubro e, o encerramento, será apenas em março de 2022. 

Um dos visitantes da edição atual é Federico Grosso, CEO da Adobe no Brasil. O executivo tirou a semana para visitar a feira, acompanhar o posicionamento de outros países e as tendências em sustentabilidade e mobilidade, fazer negócios e viajar com a família. Em entrevista à [EXP], ele falou sobre o que mais lhe chamou a atenção no que viu em Dubai e sobre os aprendizados que tira da viagem para a rotina como executivo.

Confira a seguir a íntegra da entrevista:

1. A Feira Universal de dura meses e tem mais de cinco mil eventos. Em que eventos/temas está focando sua viagem? 

É virtualmente impossível cobrir tudo. De um lado é preciso gerenciar o Fomo (sigla em inglês para medo de ficar de fora – fear of missing out) e, de outro, escolher o que se quer aproveitar mais. Para mim, que escolhi oportunidade, sustentabilidade e mobilidade, o tema que mais chamou a atenção foi mobilidade. Mobilidade não no sentido do celular, mas da capacidade do ser humano de se mover e interagir com o mundo, de cruzar fronteiras, de viajar. Essa talvez essa seja uma das mais avançadas Expos em trazer o físico e o virtual juntos. E criar assim uma forma de cruzar barreiras, nesse sentido. Hoje, lançaram no aplicativo de realidade virtual que permite a você explorar a Expo sem vir pra cá. É uma experiência de metaverso. Fizeram um gêmeo digital da feira, que é do tamanho de vários campos de futebol. Esse encontro entre físico e virtual marca um momento importante.

2. Há outras aplicações de realidade virtual ou aumentada na feira? 

Sim. Através dessa tecnologia que entra no guarda-chuva do metaverso, principalmente a realidade aumentada, você consegue aqui, com aparelhos relativamente simples, como os  nosso telefones celulares, ver uma série de animações, de conteúdo extra baseado em geolocalização e na arquitetura específica. Existe uma fusão muito grande, que já permite  uma experiência avançada, embora talvez ainda mais lúdica do que de aprofundamento de conteúdo, que faz com que a visita presencial seja mais prazerosa. 

3. Hoje, com o amplo acesso à informação proporcionado pela internet, é difícil as pessoas se surpreenderem com algo. Mas imagino que isso ainda seja possível em uma feira como a EXPO. O que mais te chamou a atenção por aí até agora?

Para alguém que vive em um país Ocidental, que talvez associe a região mais ao petróleo e a grandes riquezas, chama muita atenção o compromisso de Dubai e dos Emirados Árabes com a agenda do futuro. É superinteressante ver como a agenda da sustentabilidade, de oportunidades futuras, é muito forte. Há também a questão de quererem construir um hub de verdade, que seja o encontro entre os dois mundos (Ocidental e Oriental), com abertura à mobilidade e à inovação tecnológica, e um equilíbrio muito delicado entre a tradição e propensão ao futuro.

4. Pode dar um exemplo?

Justamente nesta semana foi anunciado aqui nos Emirados que o final de semana, que costumava ser de sexta a sábado, vai começar na metade de sexta-feita e ir até domingo, justamente para se alinhar a uma prática mundial mais comum. O primeiro dia útil da semana deixa de ser domingo e passa a ser segunda-feira. Parece algo pequeno, mas é um uma movimentação forte, que demonstra capacidade de negociar a tradição com a necessidade de uma abertura cultural e de negócios muito forte.

5. Muitas novidades tecnológicas demoram um pouco mais a chegar ao Brasil, por falta de mercado, dificuldades de infraestrutura ou pelo alto custo de implantação, entre outros fatores. Que novidades da feira teriam aplicação mais rápida no Brasil, no sentido de terem viabilidade técnica e econômica?

Acredito que a realidade aqui já seja aplicada em muitos países, como Suécia e Espanha, onde existe um foco muito grande em criar cidades mais inteligentes e sustentáveis. É aplicável ao Brasil também. Embora haja problemas infraestruturais, existe a possibilidade de criar cidades mais seguras, para públicos mais diversos, de jovens a idosos, através de várias situações econômicas. É um tema que impacta diretamente a qualidade de vida das pessoas e fomenta não só os negócios e o turismo, mas também atrai talentos de outros países. A própria Dubai é um exemplo incrível. A quantidade de expatriados aqui é altíssima e contribui para um avanço social e tecnológico muito importante.

6. Quais tendências que mais lhe chamaram à atenção? 

O pavilhão das mulheres, patrocinado pela Cartier, foi uma escolha interessante e corajosa para abrir uma conversa sobre um tema que, dependendo de onde você está vivendo no mundo, tem ainda diferenças enormes. Outro tema é a economia circular, a discussão sobre um consumo mais inteligente, que se repete em muito dos pavilhões. 

7. Como as novas aplicações de mobilidade podem transformar os negócios?

O avanço da tecnologia de mobilidade representa sempre um avanço da sociedade e da economia. Isso se aplica ao trem, ao carro, ao avião e ao sapato. Dubai tem a intenção de se posicionar como grande centro entre Ocidente/Oriente e a própria Expo, curiosamente, por causa da pandemia, virou esse fenômeno. Do ponto de vista de negócio, é importante visitar a Feira porque, em muitos países, devido ao coronavírus, você não pode entrar. Ou é muito difícil entrar. Mas aqui você pode ter acesso a 190 noventa países. Então, não é incomum que executivos e pessoas do mundo político venham a Dubai encontrar representantes da Nova Zelândia, do Japão, da Coreia, da China, dos Estados Unidos, do Canadá. E de forma mais eficiente, transparente e imediata que visitar todos esses países.

8. Em relação a oportunidade, o que mais lhe chamou a atenção?

O que é muito comum aqui é um discurso global e globalizado. Talvez seja um dos melhores exemplos da necessidade e da oportunidade de comunicação através de barreiras, fronteiras e silos, e da oportunidade desconstruirmos aqueles muros que nos separam, sejam por um viés, um estereótipo ou uma percepção, e impossibilitam a colaboração em grandes problema da humanidade. Problemas que, como sabemos, também são grandes oportunidades de negócio. Dentro do mundo da sustentabilidade existe uma riqueza enorme a ser explorada para fazer bem para o planeta e aumentar as economias de alguns países.

9. O que você tira da visita, em aprendizado para gestão e negócios?

Meu grande aprendizado aqui é o de que estamos em uma grande redefinição de ordens mundiais. Isso passa pelo papel que países específicos tem no mapa do mundo, seja ele social, econômico ou de desempenho cultural, e isso se aplica também a empresas. Ver a escala da visão que Dubai teve e a missão de longo prazo que tem, é inspirador. Inclusive com a ousadia de não fazer um evento desse tipo simplesmente para durar seis meses e acabar. No momento em que esse evento acabar, vai nascer aqui um polo digital, parecido com o nosso Porto Digital de Recife, para fomentar empreendedorismo e tecnologia.

10. Poderia fazer um paralelo entre o que se aprende em uma feira como essa e o que se vê em um SXSW ou um WebSummit, por exemplo?

Essa é uma viagem para pelo menos cinco, sei, sete dias. Existem várias formas de fazer essa viagem. Tem um aspecto que é o de uma visita técnica. “Deixa eu ver o que tá acontecendo no mundo e quais são os posicionamentos dos vários países, por exemplo, em tecnologia e em sustentabilidade, participar de palestras e encontros. Tem um aspecto mais de negócio. Algumas pessoas, que estiveram na mesma comitiva que eu, utilizaram parte do tempo pra visitar o Expo é muito tempo para fazer reuniões de negócios. Você consegue ter uma agenda muito cheia, não só com pessoas dos Emirados, mas do mundo inteiro. E existe um aspecto turístico, pessoal e familiar. Nesse momento de pandemia, você não  pode viajar para muitos lugares do mundo. Pode ser uma uma experiência muito bacana também para um time, um grupo de executivos da mesma empresas vir aqui. É interessante trazer clientes, se você em uma das empresas que patrocina o evento. E, obviamente, tem muito mais do que você analisa. Por exemplo, se você é de uma empresa de logística, ver a logística do próprio Expo é impressionante. Se você se interessa por relações internacionais, aqui hoje é o hub onde isso pode ser entendido melhor. É uma viagem extremamente inspiradora, que motiva a pensar o futuro em uma escala global e a repensar alguma das nossas limitações que a gente tem, ou pontos cegos que nós, exexcutivos, às vezes temos. Com certeza esse pensamento de crescimento de longo prazo, de décadas, é algo que para o empreendedor, o presidente da empresa, ou conselheiro, pode ser muito inspirador.

Fotos: Federico Grosso

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