Categories

Most Viewed

Fernando Schüler: “O poder se fragmentou”

A democracia nunca avançou tanto no mundo como nos últimos dez anos. A democracia representativa nunca atravessou um momento de crise tão grande como nos últimos dez anos. Um paradoxo do mundo? Sim, e é melhor ir se acostumando.

“O novo normal é o efêmero”, provoca o cientista político e professor do Insper Fernando Schüler, abrindo a série de palestras do RH Week, mais inovador fórum de recursos humanos e gestão de pessoas do mercado, realizado pelo Experience Club nos dias 21 e 22 de maio no Sofitel Jequitimar Guarujá (SP).

Citando diversos filósofos e historiados de destaque nos últimos 40 anos, Schüler enfatizou a importância das mudanças tecnológicas para compreender os novos paradigmas da democracia contemporânea. “O custo da participação política caiu drasticamente, hoje qualquer pessoa publica sua opinião dez vezes por dia. Como reflexo, a superparticipação leva à implosão da democracia como conhecemos”, analisa o acadêmico.

Poder das minorias 

Na prática, as tecnologias disruptivas que tanto impactam na economia têm efeito similar na política, ainda em que em outro ritmo. Governos podem ir num ritmo mais lento, mas também precisam aderir às inovações para reduzir custos e melhorar a qualidade dos serviços.

Na democracia, essas mudanças afetam o equilíbrio de poder, segundo Schüler. “A opinião das minorias organizadas produz muito mais efeito, para o bem e para o mal. E o poder está fragmentado: consumidores, funcionários, o cidadão comum tem mais poder”.

A reorganização de forças gerada pelo poder de opinião através das mídias sociais ajuda a entender os efeitos práticos do chamado “mito do eleitor racional”. Por mais que as evidências mostrem o contrário, a maioria das pessoas se apega a algumas certezas. “O eleitor tende a achar que economia está sempre piorando, que a tecnologia substituindo empregos é uma má ideia e que a culpa dos problemas está nos estrangeiros, por exemplo”, diz Schüler.

Essa tendência explica o viés xenofóbico da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o Brexit na Inglaterra, o renascimento da extrema direita na Alemanha e o avanço dos nacionalismos no mundo.

“A democracia perdeu qualidade mas, por outro lado todas essas tensões são fatores inerentes à própria democracia”.

Texto: Arnaldo Comin

Foto: Marcos Mesquita/Experience Club 

    Leave Your Comment

    Your email address will not be published.*

    Header Ad