No melhor estilo Game of Thrones ou Jogos Vorazes, a disputa pela atenção e assinaturas dos consumidores de serviços de streaming deve dominar o mercado de mídia nos próximos meses, com mais ofertas e grandes lançamentos. O novo round dessa disputa é a chegada em 12 de novembro ao mercado americano da Disney+, um competidor capaz de mexer com a relação de forças na indústria.
Em um mercado dominado pelo Netflix, mas que já tem players veteranos, como Prime Video (Amazon) e Hulu, a Disney chega logo depois de outra gigante, a Apple TV. Até o primeiro semestre de 2020, a NBCUniversal e a AT&T pretendem lançar o HBO Max, reunindo o catálogo atual da HBO Go com o conteúdo WarnerMedia. Na prática, a aterrissagem definitiva da TV a cabo no streaming.
Para a Netflix, a maior preocupação agora vem da empresa da “Turma do Mickey” com o Disney+, que além de todo conteúdo clássico da companhia, tem ainda toda produção da LucasFilm (sim, Guerra nas Estrelas), da Pixar e da Marvel (na imagem em destaque).O conglomerado Disney-ABC conta ainda com os estúdios ABC, Fox, FX, National Geograpich, entre outros. Além disso, a companhia também é dona do serviço Hulu, já citado acima, e dos canais de esporte ESPN. Tudo isso por US$ 6,99 ao mês, preço anunciado pela Disney para seu serviço de streaming, menos da metade do custo do pacote básico da Netflix nos Estados Unidos (US$ 12,99) e ainda mais distante dos US$ 15,99 do Netflix Premium. Nais agressiva ainda, a Apple TV – com um acervo muito menor, diga-se – entrou no mercado a US$ 4,99.
“O anúncio da Disney, com toda esfera da companhia, é uma das maiores entradas que já vimos. O percentual de produção da Disney em Hollywood é altíssimo, de mais de 30%. O grupo Disney ABC é o maior produtor de conteúdo do mundo”. [autor]Pedro Curi, coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio.[/autor]
Mas a mudança de hábitos de consumo de entretenimento doméstico oferece diversos desafios para os players. Além de maior investimento em conteúdo próprio, já que os maiores produtores estão lançando suas próprias plataformas e mexendo nos catálogos, existe a questão da fidelização. Pesquisa da Parks Associates nos Estados Unidos descobriu que 28% dos consumidores admitiram assinar um serviço de streaming para ver um único título.
“O desafio para os novos players é a fidelização. São produtos baratos e simples de serem desconectados. A HBO, por exemplo, teve uma enxurrada de pessoas que saíram com o fim de Game of Thrones“, lembra Luís Bonilauri, diretor executivo de mídia e entretenimento da Accenture.
Para Bonilauri, os investimentos “monstruosos” em produção de conteúdo próprio e original, com custos cada vez mais altos, e a repulsa dos consumidores pela publicidade nas plataformas de video sob demanda são outros pontos e atenção para o mercado. “É um jogo de escala global. O valor de assinatura baixo vai ser compensado pela escala. Mas o desafio para as empresas de mídia é ter um modelo mais híbrido (com publicidade)”, diz o executivo da Accenture.
Ter um serviço com preço competitivo e acessível é fundamental para manter os consumidores, segundo Curi, que em sua pesquisa de doutorado pela Universidade Federal Fluminense descobriu dados interessantes sobre os hábitos de consumo de fãs brasileiros de séries de TV dos Estados Unidos. Segundo o levantamento, mais de 50% dos entrevistados que faziam download ilegal estavam dispostos a pagar para ter acesso ao conteúdo.
“A Disney pode inflacionar o mercado. Se todos começarem a aumentar o preço, podemos ter queda no número de assinantes e aumento do download ilegal”, diz Curi. Outro ponto que pode levar à pirataria é o grande número de opções de plataformas de VOD (video on demand). “Pode haver um aumento de pirataria porque as pessoas, para não pagar por todos os serviços, vão pagar por aquele que tem o maior número de conteúdos que interessam a elas. Mas vão acessar de forma ilegal aqueles conteúdos de outros serviços”, analisa.
A TV aberta também vem sendo impactada pela guerra do streaming. Redes como a Globo já investem em produções exclusivas para seu serviço de VOD, o GloboPlay, e em algumas produções já utiliza a TV aberta como janela secundária, lançando produtos primeiro no digital. “O mercado vem se adequando e as empresas vão procurar ter uma oferta combinada. Mas a abrangência e a relevância da TV aberta, principalmente no ao vivo, não vão deixar de existir”, conta Bonilauri.
Com tantas opções, quem ganha a guerra do streaming, com certeza, é o consumidor que vai assistir de camarote, ou do sofá de casa, a disputa das gigantes do setor.
Texto: Andrea Martins
Imagens: Reprodução