Existe um estigma comum que limita a criatividade àqueles empregos considerados, literalmente, “criativos”. Muito acreditam que designers, publicitários, músicos e artistas usem mais a imaginação durante o expediente do que médicos, engenheiros, dentistas e advogados, que seguem protocolos pré-estabelecidos, com pouco espaço para a inovação.
O mito de que a criatividade é apenas para artistas “profissionais” limita o potencial das pessoas porque pode impedir o desabrochar e a exploração da criatividade inerente ao ser humano.
“É preciso separar profissões criativas de artísticas – aquelas ligadas ao teatro, à música, à dança e até ao Marketing ou às palestras. Um dentista não tem a Arte como algo fundamental. Agora, criativas são todas: não é um tipo de profissão ou de carreira, é um adjetivo do profissional”, destaca Murilo Gun, professor dos cursos online Reaprendizagem Criativa e CriCriCRi (Criando Crianças Criativas).
Gun é especialista e estudioso do tema: depois de atuar por dez anos como empresário de internet, seguiu como comediante por mais uma década. Virou expert em Criatividade, dá palestras sobre o assunto e pretende trabalhar mais dez anos como educador. Sua definição de criatividade é simples, mas abrangente. E pode ser usada em qualquer área profissional. “Criatividade é a imaginação aplicada para resolver problemas”, explica.
Em entrevista ao Experience Club, Gun deu dicas de como trabalhar com a criatividade em todas as áreas profissionais e na vida. Aproveitamos para montar um “Guia Básico da Criatividade em 6 Passos” para profissões “não-criativas”:
1 – Pense como um criativo
Invista em 3 pontos: curiosidade, imaginação e coragem. Segundo Gun, curiosidade é a busca pelo repertório de múltiplos universos, para estar com inputs para serem combinados. A imaginação combina estes inputs, mistura elementos de universos diferentes, tirando a auto-crítica e indo para ambientes que não só criticam e julgam, mas que te ouvem, que cruzam, são mais vulneráveis. “Porque não adianta fazer as combinações se não tiver coragem de expor, de colocar em prática, de enfrentrar o risco, que sempre o criativo e o novo vão ter. A coragem é entender o medo que está vindo e montar um time de pessoas, com inteligência emocional, para enfrentá-lo”, conta.
2- Crie repertórios variados
Investir no que nos fascina é uma ótima maneira de estimular a criatividade na vida cotidiana. Ler um livro ou assistir a um documentário sobre um tópico que queremos explorar pode dar motivação a ficarmos inspirados nas áreas que mais gostamos. Mas que tal sair da zona de conforto e consumir informações que não nos agradam, artigos pouco interessantes e até chatos? Tópicos “discrepantes” podem estimular a mente a criar novas formas de pensar.
3 – Faça diferente
O criativo é o que cria diferenciação. Se não houver criatividade, tudo vira commodity. O novo gera valor, segundo Gun. Mas como ser e fazer diferente em profissões mais engessadas? Como um médico pode ser criativo? “Ele não vai criar na hora um jeito novo de curar a doença, mas pode ser criativo na forma com que faz a receita, por exemplo. Em vez do padrão, que é letra feia e papel branco, que tal um papel especial e uma receita como diagrama ou mandala?”, imagina. Outro exemplo ele dá sobre o advogado, que não vai inventar leis, mas pode imaginar um jeito novo de apresentar uma petição ao juiz. “Que tal um vídeo? Pode explicar melhor, ilustrar e até emocionar. E já estão fazendo”, diz.
4- Pratique a criatividade
Não importa a vocação ou até mesmo os interesses. Instintivamente a critividade é praticada todos os dias, momento a momento. As pequenas decisões – como a escolha do almoço, uma conversa desafiadora com um colega, encontrar uma rota mais eficiente para casa – exigem escolhas minuciosas e criatividade. Os “especialistas” no tema, como pintores e músicos, expressam isso de maneira mais óbvia e exterior. Mas não é necessário ser do ramo para expressar a criatividade e até mesmo aumentá-la, independentemente da profissão.
5- Use a “combinatividade”
Nada se cria, tudo se combina e por isso é importante a diversidade de repertórios pessoais.”A palavra Criatividade tem um problema técnico: o prefixo ‘cria’ assusta as pessoas, vem na cabeça algo meio romantizado ou artísitico. Combinatividade tira o peso da criação. Nada vem do nada, tudo vem de algum lugar: do seu repertório ou das pessoas que estão com você, de coração e mente abertos para imaginar”.
6 – Descubra sua criatividade
Todo ser humano nasce com a capacidade de imaginar, de criar imagens. Todo ser humano nasce com problemas, mas o padrão de educação em casa e na escola não estimula a imaginação, mas a memorização. A curiosidade não foi valorizada, mas a especialidade – e perder a curiosidade por outros universos reduz o repertório para imaginar. Importante também e ter coragem de botar para fora. “Fomos educados na base do medo. Precisamos eliminar estes bloqueios. Despertar, descobrir o que está coberto, que é a nossa criatividade”, ensina Gun.
Texto: Andrea Martins
Imagem: Divulgação