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Urbano Vitalino usa IA para ganhar espaço no disputado mercado jurídico paulista 

Banca, que nasceu em Garanhuns há 85 anos, aposta alto no investimento em tecnologia para automatizar processos repetitivos de massa e dar foco à advocacia empresarial especializada   

Se há um segmento no qual o uso da Tecnologia como forma de resolver as dores cotidianas demorou para desembarcar foi o jurídico. 

Mas não restam dúvidas de que, num país conhecido pela lentidão de seu Judiciário e no qual o número de ações só cresce, há muito espaço para que a aplicação de inteligência artificial como aliada da busca pela eficiência vire regra. 

Embora essa ainda não seja nem de longe a realidade do mercado como um todo, escritórios que atuam no ramo da advocacia empresarial – cujos clientes são grandes empresas, investidores e o setor financeiro -, despontam como pioneiros e seguem essa tendência. 

É o caso do Urbano Vitalino Advogados.  Nascida há 85 anos, em Garanhuns, Pernambuco, a banca começou a investir pesado em tecnologia há cerca de 15.  

“Como o número de processos subiu e os preços começaram a despencar, notamos que era preciso mudar ou entrar em guerra de valores. Então, criamos uma linha industrial, com ajuda de sistemas, para dividir a carteira de clientes”, diz Urbano Vitalino Neto, neto do fundador e hoje à frente do escritório. 

Em 2017, o Urbano Vitalino deu um passo decisivo rumo à consolidação dos investimentos em tecnologia e inovação. Passou a utilizar o Watson, a inteligência artificial da IBM. 

A partir de então foi possível treinar a ferramenta para que ela passasse a realizar o trabalho repetitivo, típico do contencioso de massa, jargão jurídico para processos que, aos milhares, chegam todos os dias ao escritório. 

Como o valor médio pago por esse trabalho é baixo, a banca ganhou energia e tempo para se dedicar aos serviços mais especializados e sofisticados, e que melhor remuneram – como fusões e aquisições, questões societárias, causas tributárias complexas e outras.  

É o que os advogados chamam de butique, em contraposição à ideia de linha de produção.    

Com quase 1200 funcionários, sendo mais de 700 deles advogados, o escritório – que já desembarcou em São Paulo há uma década -, é parceiro de duas bancas em território paulista e deve fechar, em breve, negócio com outras duas, conforme revela, entre outros detalhes, Urbano Vitalino Neto, nesta entrevista ao EXP.    

1 – Origens do escritório 

“Uma das conversas que tive com meu pai, ainda estagiário, foi no sentido de que trabalhássemos o nome do escritório e não apenas o dele, considerado um medalhão em sua época.” 

“Ele aceitou, de forma muito tranquila, e começamos um processo de profissionalização e modernização do escritório.” 

2 – Pioneiro em investimento tecnológico 

“Nosso escritório tem um DNA desbravador e inovador.” 

“Os primeiros PCs do Estado foi meu pai, através de clientes de nosso escritório, que comprou.” 

“Um dia, ele chegou com um fax. Hoje, ninguém nem sabe o que é isso. Mas, na época, custava cerca de US$ 5 mil.” 

“Depois que instalamos o aparelho, descobrimos que nenhum cliente tinha. Ficamos alguns meses assim.” 

“Até que um cliente de São Paulo passou um caso que precisava ser resolvido naquele dia. E só conseguimos dar entrada numa defesa porque o fax permitiu que uma procuração chegasse a tempo.” 

“Aquilo ali foi uma lição de vida muito interessante para mim. A de que você precisa investir em tecnologia, ainda que, num primeiro momento, você possa não saber bem quando nem como vai utilizá-la. Tecnologia sempre dá retorno.” 

“Nunca o escritório deixou de investir em tecnologia. Somos uma referência jurídica nesse sentido.” 

3 – Padronização  

“Há uns quinze anos unificamos, padronizamos nosso modelo de trabalho. Todas as unidades do escritório passaram a atuar no mesmo modelo.” 

“Como o número de processos (no contencioso de massa) subiu e os preços começaram a despencar notamos que era preciso mudar ou entrar em guerra de preços e perder qualidade no trabalho.” 

“Criamos uma linha industrial para dividir a carteira de clientes, um modelo mais caro, que requer a contratação de mais advogados.” 

“A partir de então precisamos de um sistema para rodar o modelo. Todos os nossos parceiros nos estados se comunicam via sistema, o Knox.” 

“O sistema vale para todos os passos de um processo, da entrada a todas as etapas de trabalho.” 

“Tudo é feito pelo sistema, tanto que os advogados conversam por ali, e não por e-mail. Também evita o uso de planilha e emite nota fiscal.” 

“Em 2017, demos um passo muito importante, que teve uma repercussão forte. Passamos a utilizar o Watson, a inteligência artificial da IBM.” 

“Entendi que seria importante usar a ferramenta em trabalhos volumosos e repetitivos.” 

“Internamente, chamamos o Watson de Carol, pois a voz é feminina. Ela é nossa assistente virtual.”

  

4 – Modelo de negócios 

“O escritório trabalha com duas unidades de negócios, com sócios separados. Uma é desse contencioso de volume, trabalhista, cível, juizado. E outra, especializada, como tributária, societária, de fusões e aquisições, algo mais butique.” 

“No nosso escritório, a tecnologia não eliminou pessoas. No início dos investimentos, tínhamos 150 pessoas. Hoje, são 1200.” 

“Demos alguns grandes passos com o uso da inteligência artificial: o cadastramento completo da ação do cliente foi o primeiro. Cada pedido em uma ação, por exemplo, de horas extras, em uma ação trabalhista, é cadastrado.” 

“Conseguimos dizer para o cliente não apenas se está ganhando ou perdendo uma ação trabalhista. Mas o que aconteceu com cada pedido dentro da ação.” 

“O segundo passo foi ensinar a inteligência artificial a fazer as defesas repetitivas. Há clientes que tem 50 mil ações. Cabe ao advogado fazer os ajustes finais na ação, já que o sistema o abastece com dados e documentos sobre as ações.” 

“Como nossa inteligência artificial, a Carol, traz todos os pontos e pedidos, cabe ao advogado responder perguntas, o que é feito ponto a ponto, com muito mais segurança.” 

“Temos doze grandes clientes que trabalham por rankings, comparando os escritórios em nível nacional. Desses, lideramos em onze, o que mostra que a tecnologia faz a diferença para nós.” 

“A inteligência artificial também faz recursos. Isso é mais complexo, pois é feito baseado nas decisões do juiz. Uma parceria nossa com a Universidade Federal de Pernambuco nos trouxe essa possibilidade.” 

“Trabalhamos, além do Watson, com Google, Amazon e várias inteligências artificiais. Cada uma delas tem características que são melhores para alguns tipos de projetos.”  

“Gastamos, com inteligência artificial, cerca R$ 5 milhões a R$ 6 milhões por ano. Afinal, o escritório cresceu, acompanhamos cerca de 250 mil ações de grandes clientes. Então, esse custo é diluído e justificado pelo grande volume que temos.” 

“O sistema faz com que até mesmo um processo de due diligence, em geral muito caro, por ser especializado, seja feito de forma muito mais organizada e simples.”

 

5 – Crescimento e expansão via fusões com outras bancas 

“O escritório cresceu muito na pandemia. Mais de 20% no primeiro ano e mais de 40% no segundo. Isso tudo fruto do usa da tecnologia e da nossa capacidade de conseguir rodar em home office com eficiência.” 

“Eu tive uma visão de expansão. Achei que o Recife seria pequeno para nós e comecei um trabalho para ampliar o escritório, em especial para o Sudeste. São Paulo, mais especificamente.” 

“O grande diferencial de ter incorporado escritórios em São Paulo foi que eles trouxeram junto uma clientela forte local. É muito importante ter escritórios com raízes aqui. Os sócios que se juntaram a nós também são daqui e têm relacionamentos consolidados.” 

Foto: divulgação

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