Carta do CEO, por Ricardo Natale*.
Está nascendo um ecossistema de trilhões de dólares que vai florescer à medida que as transações via blockchain se tornem mais populares. Não falta muito.
Em sua participação no Experience Lab realizado pelo Experience Club em 22 de março, Gil Giardelli, CEO da 5Era e um dos principais estudiosos brasileiros sobre inovação, economia digital e futuro, enumerou uma série de casos acerca das profundas transformações pelas quais o mundo está passando.
Um dos maiores impactos que serão sentidos nos próximos anos, de acordo com Giardelli, são as aplicações de NFTs (non-fungible tokens). A face mais popular dos NFTs hoje são os desenhos de macaquinhos entediados criados pela designer gráfica Seneca, uma jovem chinesa de 27 anos radicada nos Estados Unidos, para a coleção Bored Ape Yacht Club (BAYC), que já arrecadou mais de US$ 1 bilhão.
Os desenhos de Seneca são vendidos por meio de NFTs e ilustram os perfis das redes sociais de celebridades como o jogador de futebol Neymar e o cantor Justin Bieber. Giardelli trouxe o exemplo dos macaquinhos para demonstrar como os avanços da computação gráfica facilitaram a vida da designer, que consegue criar milhares de desenhos em menos de 48 horas, e de como a economia caminha para a desintermediação, com o uso de NFTs e a estrutura de blockchain que os sustenta.
Nós nos acostumamos com os tokens (códigos numéricos) que usamos para validar as operações bancárias que fazemos nos canais digitais das instituições financeiras das quais somos clientes. Os tokens não-fungíveis (NFTs) têm princípio semelhante. São contratos digitais únicos (por isso, não-fungíveis), cujas características são guardadas em blockchains, uma tecnologia que registra transações em computadores em redes descentralizadas.
Dessa forma, o NFT com desenhos digitais de macaquinhos entediados comprados por Neymar é um e o de Justin Bieber, outro. Os detalhes de cada operação ficam armazenados em blockchains. Não são fungíveis, não utilizaram nenhum papel, tampouco precisaram da burocracia necessária para operações dessa natureza no mundo físico.
Se o conceito parece complicado, o uso do NFT não precisa ser muito mais complexo do que os meios de pagamento eletrônicos tradicionais, à medida que mais fintechs, marketplaces como o OpenSea e grandes empresas do setor invistam em soluções de intermediação.
Esse ecossistema digital já atraiu a atenção da Visa, que lançou recentemente o Visa Creator Program, uma iniciativa para ajudar artistas, músicos, designers de moda e cineastas digital-first a acelerar seu pequeno negócio por meio de NFTs. Cada ciclo do programa apoiará um grupo selecionado de empreendedores interessados em entender melhor a tecnologia e as plataformas que respaldam o comércio NFT.
Peter Diamandis, fundador da Singularity University, lembra que as aplicações de NFTs vão muito além da arte digital badalada. Elas deixaram de ser apenas hype para se ramificar em várias outras finalidades. “O verdadeiro valor dos NFTs é sua combinação de exclusividade e transparência. Não-fungível significa que cada NFT é totalmente único. E o blockchain onde é registrado assegura que todas as atividades de vendas são rastreadas com precisão”, diz.
Em artigo recente, ele lista outras quatro aplicações em crescente uso pelos NFTs:
1. Música — Artistas como Kings of Leon, Shawn Mendes e Grimes começaram a lançar NFTs relacionados às suas canções. Em alguns casos, os NFTs são arte digital que se traduz em ingressos para shows. Em outros, é a própria música. E em todos os casos, os cantores criam e distribuem os NFTs sem passar por intermediários de gravadoras.
2. Comércio eletrônico — Pioneiros do NFT, como a RTFKT Studios, estão usando esse ativo digital para reimaginar o varejo físico. No início de 2021, a RTFKT vendia NFTs em conjunto com tênis físicos: os clientes recebiam NFTs imediatamente e os sapatos físicos cerca de um mês depois. A campanha produziu US$ 3,1 milhões em vendas em menos de sete minutos. Isso chamou a atenção da Nike, que comprou a RTFKT Studios por US$ 33 milhões no final de 2021.
3. Esportes — Você pode comprar uma das luvas de beisebol usadas por Willie Mays por cerca de US$ 21.000. Mas, com os NFTs, poderia teoricamente também adquirir um vídeo digitalmente exclusivo de “The Catch”, o icônico agarre por cima do ombro que Mays fez no Polo Grounds em 1954. E, ao contrário das recordações físicas, que são facilmente falsificadas, as assinaturas digitais exclusivas dos NFTs os tornam impossíveis de falsificar.
4. Imóveis — Podem-se usar NFTs para tokenizar direitos de propriedade — em outras palavras, estabelecer, rastrear e trocar a propriedade. As vendas de imóveis atualmente exigem uma enorme quantidade de supervisão e regulamentação legal. Por meio do blockchain, a propriedade baseada em NFT pode criar um mercado imobiliário mais líquido, expandir o acesso ao financiamento de projetos, automatizar a cobrança de aluguéis e muito mais.
Peter Diamandis acredita que os NFTs têm o potencial de ser o que ele chama de Momento da Interface do Usuário, uma revolução blockchain mais ampla que tornará transações mais ágeis e econômicas. Embora a moeda seja fungível e possa ser facilmente transferida, os NFTs tendem a ser usados para armazenar informações muito mais complexas e específicas de cada indivíduo.
Por exemplo, documentos governamentais, como certidões de casamento, registros de imóveis, classificações de alimentos e carteiras de motorista podem ser tokenizados usando NFTs. No varejo, os consumidores podem usar a tecnologia blockchain para verificar a legitimidade dos bens de luxo. “Estamos testemunhando o nascimento de um ecossistema econômico de vários trilhões de dólares”, acredita.
No Brasil, o Chiefs Group — de recrutamento de executivos para compor diretorias de startups — lançou em março uma plataforma em blockchain para gestão de talentos C-level, com NFTs avaliados em R$ 11,3 milhões. Criado em parceria com a OnePercent, startup brasileira de soluções em blockchain, o modelo permitirá digitalizar a carreira de altos executivos e viabilizar uma nova relação de trabalho sob demanda.
Assim, o profissional poderá investir seu capital intelectual de acordo com o desafio proposto, em vez de dedicar 40 horas semanais de forma exclusiva, tendo acesso a um novo tipo de remuneração, via equities, que gera maior envolvimento e comprometimento com o sucesso do negócio.
De início, as carteiras digitais serão disponibilizadas para um grupo de 53 C-levels. Profissionais de alto escalão com passagens por empresas como Meta, 99, Movile, Stone, TIM Brasil, dentre outras, e experiência em diversas áreas, como administração, finanças, tecnologia, logística e marketing, passarão a ter suas próprias carteiras para gerenciar e oferecer tempo e conhecimentos para empresas, startups e projetos.
Inicialmente, as carteiras para os 53 executivos trazem NFTs no valor médio de R$ 150 mil cada, representando as horas a serem alocadas em um projeto. O pagamento em dinheiro ou em equities das startups pela dedicação dos C-levels será representado por um token que comprova essa relação e gera valor para todos os envolvidos.
“Ao viabilizar uma tecnologia que possibilita profissionais com grande experiência atuarem em profundidade naquilo que de fato conhecem e em diversos projetos, estamos liderando o movimento de Open Talent Economy na América Latina e construindo o futuro do trabalho, que foi acelerado pelo distanciamento social que experimentamos a contragosto com a pandemia”, explica Cristiane Mendes, fundadora e CEO do Chiefs Group.
Há muita regulamentação ainda a ser feita, e os Bancos Centrais não abrirão mão do poder de controle fiscal sobre uma fatia tão relevante da economia global.
Mas, até lá, o NFT deverá se tornar um meio de transação de valor cada vez mais próximo do dia a dia da economia. Prepare-se.
Por que o futuro da economia está em Token, NFT, DAO e Metaverso? Diante do tremendo impacto que tecnologias estão produzindo na geração de valor, este é o tema que elegemos para a realização da próxima Confraria de Economia.
O evento, que será realizado pelo Experience Club para associados, patrocinadores e convidados no dia 28 de abril, terá como destaque Roberto Dagnoni, CEO da 2TM, o unicórnio brasileiro de soluções em cripto e proprietário do Mercado Bitcoin. Participam também dois importantes investidores e especialistas em blockchain e metaverso: Caroline Nunes, fundadora da InspireIP, e Heli Diogo, fundador e CEO da Futuro Ventures.
Será mais um encontro em que tentaremos contribuir no debate sobre o futuro da economia no Brasil, e sua relação com as tendências tecnológicas que estão mudando o PIB global, ao lado de grandes lideranças do mercado.