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“Não vale a pena prever o futuro: prepare-se para fazer a diferença agora”

SXSW 2021

O mundo se tornou complexo e caótico demais para que seja possível tentar prever o futuro. Só no ano passado, o Future Today Institute identificou cerca de 500 novas tendências, 22% a mais do que em seu levantamento realizado no ano anterior. Por isso, em vez de imaginar como o mundo será em alguns anos, as empresas ganhariam mais se preparando hoje para lidar com tendencias já postas no cenário atual e ajudando a moldar o futuro que desejam. Está é, em síntese, a visão de Amy Webb, fundadora do Future Today Institute, apresentada no lançamento do seu 2021 Emerging Tech Trend Report. 

Amy foi uma das estrelas da abertura da primeira edição virtual do SXSW, o tradicional festival de tecnologia e cultura realizado em Austin, no Texas, que começou nesta terça-feira, dia 16, com uma programação intensa de palestras.  

Durante a apresentação de seu relatório de tendência, disponível gratuitamente online, a fundadora do Future Today Institute destacou três conjuntos de macro tendências. O primeiro engloba o que chamou de YoT (You of Things). Está relacionado a dispositivos que vestimos, ou que estão à nossa volta no dia a dia, e que, cada vez mais, são projetados para recolher nossos dados.  

Um exemplo bastante próximo são os smart glasses, com capacidade para gravar e apresentar nas lentes uma série de informações sobre o mundo ao redor. Ou anéis que podem medir a temperatura corporal, batimentos cardíacos e outros indicadores de saúde. Ou ainda sistemas de controle de máquinas diretamente pelo cérebro. E tudo isso ligado e processado na nuvem. “Estamos em uma fase de transição, do celular para uma constelação de novos devices”, afirma.  

O segundo conjunto de tendências, segundo Amy, está associado à mistura entre os mundos real e virtual, à forma como os dados são captados no digital e usados para influenciar a forma como as pessoas percebem o mundo real. Há casos, por exemplo, de uso terapêutico de jogos de computador, de janelas capazes de cancelar ruídos e de óculos que permitem ao usuário tirar ou acrescentar elementos à cena que está vendo. 

No limite, será possível “ressuscitar” pessoas no mundo virtual, com base no histórico de suas redes sociais, criar cópias ou inventar novos seres vivos com engenharia genética. “Mas temos que começar aqui a endereçar algumas questões. O que acontece se alguém sintetizar alguém morto para falsear a história? Ou uma versão de você para cometer crimes?”, questiona Amy. “Ou ainda,  quem decide que direção a vida vai tomar. Ou o que vai significar dar a luz no futuro?”

O terceiro conjunto de tendências está relacionado a mudança profunda no balanço de poder no mundo trazida pela pandemia da Covid-19, avalia a futurista. O uso de tecnologia de ponta para conter o vírus, como câmeras com sensibilidade à temperatura e sistemas digitais de vigilância para evitar a propagação do vírus, por exemplo, levaram as pessoas a aceitarem interferências sobre suas vidas que não aceitariam de outra forma.

De forma semelhante, grandes companhias de tecnologia hoje definem quem bloquear em suas redes sociais ou plataformas de comunicação. Em paralelo, vêm surgindo novas ferramentas e formas de ativismo virtual, ou “hacktivismo”. “O ano de 2020 deu origem a uma nova desordem mundial”, avalia Amy. 

Por tudo isso, mais do que respostas, o futuro vai demandar pessoas que saibam fazer perguntas, afirma. Que novas tensões resultam desses novos sinais e tendências? Quais são as nossas premissas? Como podemos resolver as tensões surgidas com as novas tendências? “Hoje, é mais importante do que nunca fazer essas perguntas”, diz.  

 
Confira mais algumas das principais citações da apresentação: 

1 – “Sobreviver a uma pandemia e a um governo caótico não nos torna imunes. Pode acontecer de novo. Ninguém pode prever o futuro. E não há algo como a prova de futuro”.  

2 – “Gastamos muito tempo julgando as pessoas por suas respostas, quando deveríamos julgá-las por suas perguntas”. 

3 – “Nossos dados são usados e refinados para influenciar a forma como percebemos a realidade”. 

4 – “O ano de 2020 deu origem a uma nova desordem mundial” 

5 – Não vale a pena prever o futuro: prepare-se para fazer a diferença agora” 

Veja abaixo outros destaques do primeiro dia do evento: 

 
Inovação cumulativa  

No painel How to Disrupt Billion-dollar Industries, Jim McKelveycofundador da Square e autor do livro The Innovation Stackbuilding na unbeatable business one crazy idea at a time, conversou com o James Altucher, apresentador do podcast The James Altucher Show. No bate papo, contou como partiu de um pequeno problema com cartões de crédito para construir para uma das maiores empresas de serviços financeiros dos Estados Unidos, a Square, ao lado de Jack Dorsey, cofundador do Twitter. E apresentou sua visão sobre como inovar em um cenário em que tudo parece já ter sido feito. 

“Não imaginamos que iríamos fazer uma companhia bilionária. Nossa intenção era resolver um problema pequeno e bastante específico”, contou. 

 
A seguir, alguns dos principais destaques do painel: 

1 – “Copiar, normalmente é a melhor forma de resolver um problema. Mas o fato é que você nunca vai construir um negócio importante, significativo, se não fizer algo único”. 

2 – “O que eu percebi, pesquisando para o livro, foi um padrão. O de que pessoas focadas em resolver problemas que que afetam pessoas comuns são as que ocasionalmente criam inovações que dão origem a indústrias inteiramente novas”. 

3 – “Eu acredito que há oportunidade para a construção de companhias inovadoras na base de praticamente todos os mercados”.  

4- “Toda vez que algo novo foi feito na história da humanidade, foi feito por alguém que não era qualificado para aquilo. Você não pode ser especialista em algo que ainda não foi feito”. 

5 – “O que é fascinante na inovação, é que todo dia temos uma nova ferramenta. Algumas coisas possíveis hoje eram absolutamente impossíveis de fazer há dez anos”. 

Identidade virtual 

Em apresentação solo, Vanessa Mason do Institute for the Future apresentou uma análise abrangente das muitas startups que estão trabalhando em soluções para aproximar as pessoas, fortalecendo o sentimento de pertencimento. Para ela, embora as plataformas de mídia social atuais nem sempre resolvam a necessidade humana de pertencer a um grupo, a próxima geração de aplicativos pode finalmente começar a lidar com essa demanda por uma conexão mais profunda.  

“Startups são ferramentas poderosas para mudar o comportamento humano e a cultura de forma criar um lugar melhor para todos nós”, afirma. 

Veja alguns dos destaques da apresentação de Vanessa: 

1 – “Não é sobre não ter amigos, mas sobre a qualidade das relações. Qual é a real conexão?” 

2 – “Pertencer está se tornando mais mutável, em termos de espaço, tempo e circunstâncias” 

3 – “A tecnologia que constrói o pertencimento é relacional e não transacional. Há uma priorização das conexões acima da produtividade”. 

4 – “O pertencimento acontece via design e não por acidente”. 

5- “Nós não precisamos apenas imaginar um mundo melhor. Nós podemos criar e mergulhar em um mundo melhor”. 

 
Marcas e diversidade 

Principal analista e vice-presidente da Forrester, uma das maiores consultorias de mercado dos Estados Unidos, Dipanjan Chatterjee destacou na apresentação Gender, Race, and the Modern Brand Rethink, como o ano de 2020 levou a discussão da diversidade a um novo patamar, sobretudo em relação às tensões raciais provocadas pela morte de George Floyd por policiais no Estados de Minnesota, que reacenderam e deu escala global ao movimento Black Lives Matter.   

“Nós assistimos ao movimento de mudança para uma consciência coletiva”, aponta, reforçando que a descrença nas instituições abre caminho para que as marcas assumam protagonismo nas transformações sociais.  

Confira alguns dos destaques da apresentação de Chatterjee: 

1- “As instituições estão desmoronando. Na Dinamarca, os jovens não acreditam mais na religião; no Japão, a solidão se tornou uma praga. Nesse vácuo, as marcas ocupam espaço e ganham legitimidade na cultura popular”. 

2- “As empresas com maior valor de mercado do mundo – Microsoft, Amazon, Apple, Alphabet e Facebook têm em comum marcas relacionais, que conectam a sociedade”.  

3- “Em 35 países, 50% da população discorda ou não tem certeza de que existam apenas dois gêneros, masculino e feminino. Nos EUA, 60% acreditam que as marcas devam se levantar em defesa da justiça racial”. 

4- “Para enfrentar as forças da mudança, esteja atento e preparado. É preciso compreender que a companhia está inserida em um contexto de três níveis de relevância, abaixo do cliente e, por último, da comunidade”. 

5- “Faça a diferença naquilo que tem de melhor. Conecte a diversidade de gênero e raça ao seu core business, e não apenas a um exercício de marketing”. 

Dados e privacidade 

Angela Benton, fundadora e CEO da Streamlytics, foi o destaque no painel Ethical Startups that Don’t Monetize Your Data. A Streamlytics é uma startup de ciência de dados que avalia o comportamento de usuários de serviços de streaming, o valor desses dados, e paga aos usuários por esse acesso, revendendo depois as informações anonimizadas ao mercado. Angela conversou com o escritor Anthony Ha, da TechCrunch, sobre o modelo de negócio de sua empresa e a demanda crescente no Ocidente por maior privacidade e controle sobre dados pessoais.  

1 – “O mundo quer dados mais acurados, éticos e que lhe deem uma visão mais precisa do que está acontecendo” 

2 – “Os dados estão no centro de tudo que fazemos como sociedade, agora. Mas em que dados esses algoritmos estão sendo treinados?”  

3 – “Acho que mais companhias de tecnologia vão adotar uma abordagem assim, na medida em que as pessoas forem ficando mais indignadas com o uso abusivo de seus dados.” 

4 – “Você pode querer compartilhar alguns dados pessoais específicos com uma empresa, e deve haver uma maneira de se fazer isso”. 

5 – “Quanto mais o uso de dados pessoais tiver impacto (negativo) no mundo real, mais as pessoas vão passar a demandar mais dos legisladores leis para proteger a privacidade.”

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